Novas
tecnologias que unem a internet das coisas com a automatização industrial já
começaram a revolucionar as empresas com seus benefícios, como ganho de
produtividade e competitividade. Mas esse processo, também conhecido como
digitalização, vai muito além de máquinas inteligentes que conversam entre si e
tomam decisões em tempo real. As novas demandas devem mudar o perfil de
profissional ideal para o mercado de trabalho.
Uma das tendências é que os
profissionais deixem de exercer funções repetitivas, como o encaixe de uma peça
na linha de produção. “Quanto mais operacional for a função, mais chances ela
tem de ser automatizada”, explica João Roncati, professor universitário e
consultor empresarial da People+Strategy. Isso não significa que os
colaboradores serão eliminados das linhas de produção, mas que ficarão
concentrados em funções estratégicas, como o controle de projetos.
Quem deseja se preparar para as novas exigências do mercado
precisa ficar de olho nas tendências. Veja a história de Thiego Fontes, gestor
de tecnologia da informação (TI) da Fiat, em Pernambuco. Formado em engenharia
da comunicação, já trabalhou em instituições de pesquisa, como a Fundação
Oswaldo Cruz. Quando percebeu que suas áreas de interesse – inteligência
artificial e análise de dados – eram úteis para os sistemas produtivos, começou
a trabalhar com TI em linhas de produção de uma indústria de bebidas.
Para juntar os conhecimentos de
computação com a parte industrial, decidiu fazer um mestrado em engenharia de
produção. “Quando entrei na empresa, eu era analista de TI. Só que, conforme eu
fiz meu mestrado, percebi que precisava de mais do que isso para trabalhar.
Diariamente, na fábrica, eu via os mesmos problemas que aprendia na sala de
aula do mestrado. Tive, então, a oportunidade de colocar a teoria em prática.”
Embora tenha atingido um grau de destaque na carreira, Fontes
já planeja novos aprendizados para aumentar suas habilidades. “Uma tendência em
que eu tenho muito interesse é a Indústria 4.0. Há muitas oportunidades e as
empresas têm investido na área. Penso em fazer um mestrado em engenharia de
sistemas, um MBA em gerenciamento de projetos ou algo relacionado à gestão de
pessoas. Existem várias possibilidades, e sei que preciso definir minhas
próximas metas para crescer profissionalmente.”
Com a entrada de novas soluções no setor produtivo, como
sistemas analíticos em nuvem e gêmeos digitais na linha de produção,
surge um conjunto de habilidades necessárias para lidar com a realidade
industrial. “Tecnologias como internet das coisas, robótica, computação em
nuvem e big data criam um cenário em que profissionais como cientistas de dados
e programadores serão cada vez mais valorizados”, explica Marcelo Prim, gerente
executivo de inovação e tecnologia do Senai.
Mas a formação não será o único
diferencial. “Conforme um estudo do Fórum Econômico Mundial, 65% das profissões
do futuro ainda nem foram inventadas. Então, não temos que nos preocupar em
saber quais serão as graduações mais importantes, mas sim com quais habilidades
serão exigidas”, diz Prim.
Análise de dados, programação,
conhecimentos em robótica, desenvolvimento de aplicativos e integração de
sistemas são algumas das habilidades importantes. Para Prim, essas aptidões são
mais comuns em carreiras ligadas à tecnologia da informação e comunicação, mas
até mesmo um profissional da área precisa buscar conhecimento.
A quantidade de dados sobre a produção da empresa aumentará
com as novas tecnologias. Para Prim, além de entender os dados, o profissional
terá que entender o que eles significam, como podem ser usados no planejamento
dos negócios e como deve ser feita a comunicação dessas informações.
“Isso envolve conhecimento de áreas
como administração, empreendedorismo, marketing e comunicação. O profissional
do futuro é aquele que não é só um excelente engenheiro, mecânico, soldador ou
eletricista, mas também uma pessoa com senso crítico, que sabe dialogar e
pensar em soluções criativas.”
Além disso, a função do profissional
dentro da empresa poderá não ser mais relacionada com a sua formação acadêmica.
“Não adianta um engenheiro, por exemplo, aperfeiçoar apenas seu conhecimento
técnico. Ele precisa estudar outras áreas para entender os resultados do seu
trabalho sobre toda a cadeia de produção da empresa”, diz Roncati, da
People+Strategy.
Aumentar a diversidade dentro das empresas é uma das grandes
preocupações atuais. Mas, para Roncati, manter um ambiente diverso pode ser um
desafio. “O funcionário precisa estar disposto a conviver com perfis de pessoas
muito diferentes. É mais fácil trabalhar com pessoas que pensam igual entre si.
Só que assim não se tem um ambiente inovador e com a dinâmica que as novas
tecnologias exigem”, diz.
Um exemplo disso é o setor de
tecnologia da informação, que será cada vez mais requisitado pelas empresas.
“Nesse mercado, há uma carência de profissionais do sexo feminino, e as
empresas precisam se preocupar em mudar isso. Elas devem incluir não apenas as
mulheres, mas também novos perfis de funcionários em seu time. Porque, sem um
estímulo à diversidade, a empresa perde competitividade”, afirma. Cabe ao
profissional saber se comunicar, conviver com as diferenças e ter um bom
relacionamento com todos os colegas, características cada vez mais valorizadas
em ambientes digitalizados.
Além das exigências, as companhias precisam garantir a
atualização de seus funcionários. Para Roncati, as organizações que querem ser
competitivas precisam analisar como será o mercado em que atuam no futuro. A
partir daí, devem avaliar se as equipes têm as competências para atingir esses
objetivos. “Caso contrário, será preciso investir em cursos para os
funcionários. Se uma empresa não capacita seu funcionário, a concorrente vai
sair na frente.”
Fonte : exame.abril.com.br